Só No Truque ...

Caros leitores de orelha de livro, profundos conhecedores de duas ou três citações de Nietzsche, amantes da culinária tailandesa feita por Tia Dulce, vítimas da moda de Herchcovitch comprada em ponta, ouvintes hypes de Mr.Catra pirata, frequentadores do Coqueirão de Ramos, cultuadores do cinema gratuito... Neste espaço, quase um lounge virtual, se fala de muito um tudo. Mas amadores não entram. Gente que se leva a sério tem úlcera e mau-hálito. Força no laquê e muito truque!

31.10.06

Sobre mim

Já tive aqui versos, músicas e frases que me definiram muito bem. Foram substituídos ao longo de semanas, dias, horas. Chico já me descreveu inúmeras vezes. Vinicius doou parte de uma estrofe. Drummond me conferiu leveza. Cora me mostrou como menina. Já tive fases de Moska, Marisa. Beatles embalaram uma manhã. A tarde, já os havia trocado por um bom samba de Noel. Em algumas,uma tristeza velada. Em outras, alegria estampada.Hoje, porém, decidi eu mesma falar por mim, Letra e harmonia. Dizem que sou boa nisso. E sou. Sem falsa modéstia.Apesar de não saber onde ponho as mãos ao receber elogios, tenho de controlar a vaidade típica de loucos que se acham de alguma forma geniais. Já quis pintar o sete nessa vida. Acabei fazendo uma bela aquarela. Adoro pares. Tenho problema com ímpares. Nasci num ano par. Num dia sete. Às sete da noite. Desconfio que numa outra vida - sim, eu acredito - morri muito cedo. E de tanto encher o saco de um anjo estagiário, ele me botou pra correr num breve espaço de tempo. Talvez por isso, sinta uma enorme vontade de viver cada minuto como se fosse o último. Mas nunca me chame para um vôo livre. Meu gosto por aventuras extremas é pífio. Gosto do que é palpável. Creio pra ver. Me comporto como libertina ocidental, mas, no fundo, sou uma careta de burca.Já fiz um monte de besteiras. Menos até do que deveria. Sou durona. Choro, no entanto, vendo cena de novela. Me arrepio com frequência. No olhar do outro, ao toque, à energia. Adoro estar rodeada. Sou agente polarizador. Minhas turmas mudam com frequência. Sou nômade em constante busca, Mas não volúvel. Só que eu preciso ficar só e encontrar outros pares pra me fazer rir. Não tenho meias palavras. Vão ouvir de mim muitas verdades. Mas embaladas em voz de veludo, paradas em sonoras gargalhadas. Eu tiro onda de sobrevivente. E de fato sou. Já estive no finalzinho da prancha, mas aquele mesmo anjo foi efetivado e decidiu me cobrar a chance de viver mais um pouco. Já fiz arco-íris na mangueira. rinquei de pique-bandeira. Quis ser moleque pra subir em árvore. Nunca quis casa. Casei. E gostei. Já perdi um amor para sempre, e encontrei outro na padaria. Enrolei a saia pra seduzir. Cabulei a matemática. Pintei minha cara com a desculpa de beber cerveja. Abracei uma causa. Fui hippie. Meus conselhos são ótimos. Mas para os outros. Já fui arrogante, prepotente e falsa. Levei porrada. Chorei agarrada a um travesseiro, e jurei nunca mais olhar para vários alguéns.Gosto da festa, de música bem alta. Falo palavrão pra caralho. Compro cremes que nunca vou usar. Sopas que nunca vou tomar. Roupas que jamais vou vestir. Meu coração é terra em que se pisa com cuidado. Às vezes, árido. Às vezes pantanosa. Mas quem consegue chegar nele de leve e com uma bela piada pra contar, entra e não sai mais.Minha cabeça gira feito peão. Sou envolvente. Me dá cinco minutos e te levo no bico. Em dez, vc já gostou de mim. Em 30, é meu. Mas bastam dez segundos pra me detestar. Eu faço graça. Sou carinhosa. Mas não suporto frescura. Quem se vitimiza perde a minha admiração. Não curto lutos muito longos. Morro. Passo por cima e volto sem olhar pra trás. Do meu passado, guardo francas experiências. Mas não as quero de volta. Minhas gavetas são fundas e trancadas. As chaves engoli. Soltei pipa quando quis. Trepei quando quis. Mas também quando não quis saber do mundo, virei as costas e dormi. Fiz primeira comunhão, li mão na cartomante, tomo banho de sal grosso.Pretendo viver solta pelo mundo. Não tive filhos. Mas se os tiver, serei uma mãe severa. Regra é bom e eu gosto. Nem que seja para quebrá-la.Sou um território de contrastes. Toda pessoa o é. Mas eu sou bem mais divertida...