Agente passivo
Oi, meu nome é "EU TE AMO",
Estou aqui esta noite pra me abrir com todos vocês.
Desde que Adão e Eva ganharam do MST um pedacinho de terra no Paraíso, meu nome é repetido em profusão.
E principalmente, em confusão.
Sou formado por três palavrinhas que, por definição, deveriam significar o estado máximo de um sentimento.
Pronunciar meu nome, antigamente, era sinônimo de coisa séria. Ninguém ousaria proferir meu nome em vão.
Mas com o tempo, eu - que já fui chamado de três palavrinhas mágicas - fui ficando gasto.
Pareço uma meretriz da Vila Mimosa.
Barato, desenxabido e utilizado a qualquer hora do dia e da noite.
Ninguém pensa em mim como rei da festa. No máximo, fui mal pago para fazer duas horas de apresentação como mágico, cantor, garçom e Conga, a mulher gorila.
Eu podia estar amando, sendo desejado, ouvido por pessoas especiais.
Mas não, caros amigos. Estrou aqui para pedir a ajuda de vocês.
Sem esse papo de contribuir com qualquer coisa de modo que eu consiga chegar até o próximo ponto.
Não.
Quero voltar a ser especial. Circular entre os grandes amores, as delicadas relações.
Poxa, qualquer um toma meu nome emprestado e sai por aí me declarando para quem nem se bem conhece.
Ah, quanta promiscuidade!
Sempre fui caretão. Nem umas paradinhas lisérgicas tomei para manter minha integridade. E o que ganheir com isso?
Entre tantas outras coisas, um adesivo com a seguinte frase "Sogra, eu te amo".
Ah! Quanta humilhação!
Desde quando um genro falaria isso daquela que irá sempre contra ele no primeiro piti da filha?
O fato é que estou aqui para pedir minha demissão. Quero meu aviso prévio.
E bota aí! Décimo terceiro e férias vencidas que um monte de gente tirou com a amante em Côte d' Azur.
Chega de andar de boca em boca, de ouvido em ouvido.
Na hora do desespero, na hora do sufoco.
Na hora do gozo sem importância.
Não, se não for pra me tratarem direito, a partir de hoje quem vai assumir é meu primo "Eu te Odeio". Porque ele sim gosta desse tipo de comportamento.
Eu não aguento mais participar de DRs infinitas, em que sempre saio da boca do arrependido. Isso não é vida!
Meu índices glicêmicos estão nas alturas. Antes, pelo menos, se fazia um cú doce danado para me me acionar.
Eu ali, louco pra sair, mas não.
Eram dias, meses, até anos, intermináveis. Preso aquele músculo pulsante e meio nojentimho, devo dizer, chamado coração. Pronto para subir até a garganta e ser expulso. O cérebro sempre foi metido a mandão, então ficava ali travando a parada. Mas agora, até o cérebro se perdeu. Não, meus amigos, não se faz mais cérebro como antigamente.
E aí, o coração, que nunca soube mandar, apenas cumpriu ordens em séculos, tá fazendo uma merda atrás da outra. E quem paga a conta?
Eu, claro!
Não páro mais em casa.
As bocas me repetem, me buscamn e eu, francamente, virei carne de segunda, arroz de festa, croquete de milho.
Aquela coisa sem gosto, mas obrigatório pra fazer volume e entreter os convidados.
Chega!
Não quero mais participar dessa orgia milenar.
Ou saibam me usar, ou me perderão para sempre.
Obrigado,
Ass: "EU TE AMO"
3 Comments:
Nossa, Carolita, parece até aqueles textos do Jabor que a gente recebe por email e que não são do Jabor.
Cuidado, daqui a pouco tão atribuindo seu texto ao Veríssimo também!
Tá maravilhoso!!!!!!
Um beijo e saudades.
M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O!!! Transborda emoção, vivências e, o mais importante: a realidade. Publica isso!
O excesso de 'eu te amos' da boca pra fora tá no imaginário coletivo das pessoas esses dias.
Isso deve fazer algum sentido, de alguma forma. Deve ser a primavera que se aproxima.
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